sexta-feira, 1 de abril de 2011

Um assuntinho espinhoso

Faz tempo que estou com esse assunto na cabeça, e de verdade, ainda não consegui encontrar uma resposta. Vamos a ele. No carnaval, em meio a uma cervejinha e outra, peguei um livro dum amigo meu para ler. Era uma seleção de entrevistas da Playboy. Boa leitura pra prainha. Eu podia pegar apenas uma entrevista aleatoriamente, sem precisar seguir a narrativa e a temática normalmente era a mesma: fama, drogas, mulheres, festas e realizações artísticas. Eis que, me deparo com a entrevista do Spike Lee, lá nos anos 90, logo quando ele estava despontando. E o nosso amigo Spike falou uma coisa que ficou martelando na minha cabeça - para ele preconceito é difetente de racismo. E ele avisa pra tomarmos muito cuidado com isso. O carinha disse que preconceito para ele tudo bem, cada um tem sua opinião e mesmo que não gostemos, dane-se. O problema é o racismo, é quando o preconceito é institucionalizado. É a ação. Isso me veio a cabeça outro dia, quando estava almoçando num bar em que o dono, um carinha que sempre fica fazendo piada de negrão, e é, em tese, racista. No entando, a única funcionária dele é negra, e eles, ao que parece, tem um relacionamento ótimo. Fiquei pensando, que, como sempre o vilão da história, a aura do politicamente correto cobrou seu preço nesse assunto também. Ao longo dos anos 90, e começo dos anos 00, foi-se criando o esqueleto do que temos hoje. Temos que cuidar o que falamos, embora,no âmago, pensamos. Em vista do que li, e do que vi, acho que estou criando uma nova concepção da coisa. Pode ser que eu esteja totalmente errado, e pode ser que eu esteja falando, e pensando, merda, mas hoje acho que prefiro alguém que fale como se fosse preconceituoso, mas que aja de forma não racista. Como a do cara, dono do bar que deu emprego a um negro. Esse assunto é meio foda, e não me sinto muito a vontade pra escrever, embora o fiz agora, porque acho que tem muitas lacunas na forma como ele deve ser abordado e eu não tenho a menor convicção de como a coisa deve ser. Mas acho que é bem importante a gente pensar nisso, porque muito mal já foi feito em nome dessa merda toda.

Um comentário:

Muchacho disse...

olha meu. a coisa do politicamente deveria ser, entre muitas outras coisas, uma adequação da fala a uma série de atitudes condizentes. então, se as pessoas começaram a se dar conta do quão errado era segregar negros, mulheres e outros grupos de menor representatividade na época (que foram chamados de minorias erroneamente), porque não adotar um discurso de acordo? claro, como falar é mais fácil que fazer, a teoria do politicamente correto ficou restrita ao discurso, enquanto a prática continua uma bandalheira, mas disfarçada.
agora, se é pra não ser racista na prática, não custa nada não ser no discurso. até porque eu duvido que alguma pessoa negra, mesmo a mais tolerante, goste de piada de negrão assim como gosta de chocolate ou de ir ao cinema. e sempre lembrando quem é o patrão e quem é o empregado no caso do restaurante... mas é verdade, é melhor ser sincero e poder aguentar as consequências da sua sinceridade a ser um cretino politicamente correto que esconde uma prática errada com palavras vazias.