quinta-feira, 7 de abril de 2011

Também quero ser foda

"Rusbrock está enterrado há cinco anos; desenterraram-no; seu corpo está intacto e puro (evidentemente! senão, não haveria história); mas: "havia apenas um pontinho no nariz que exibia um leve vestígio, mas um certo vestígio de corrupção". Na figura perfeita e como embalsamada do outro (tanto ela me fascina), vejo súbito um ponto de corrupção. Esse ponto é ínfimo: um gesto, uma palavra, um objeto, uma roupa, algo de insólito que surge (que desponta)de uma região que eu jamais suspeitara, e liga bruscamente o objeto amado a um mundo chão. O outro seria acaso vulgar, ele de quem eu incensava devotamente a elegância e a originalidade? Ei-lo que faz um gesto que desvela nele uma outra raça. Fico pasmo: ouço um contra-ritmo: algo como uma síncope na bela frase do ser amado, o ruído de um rasgão no invólucro liso da Imagem."

Tô lendo um livro foda. Chama-se Fragmentos de um Discurso Amoroso, do Roland Barthes. Difícil no começo, por conta do jeito que o cara escreveu, sem narrativa. Mas depois que engrena, só vai.
E vou te dizer, tem algumas coisas que dão no melão do cara. Essa aí dele dizer que existe o ser amado, e a projeção que tu cria, e quando começam a aparecer umas sujeirinhas no ser amado e se começa a ficar diferente do que se projetou, é genial.

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